segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Lesões do Nervo Radial


O meu objetivo no post de hoje é tentar aprofundar um pouco mais na semiologia do nervo radial. Obviamente não dá pra esgotar o assunto, mas como de costume deixarei uma seleção de links para quem quiser estudar um pouco mais sobre o tema.

LESÕES DO NERVO RADIAL
O nervo radial origina-se do tronco posterior do plexo braquial, sendo composto por fibras nervosas das raízes de C5 a T1. Em seu trajeto podem ocorrer traumas, os quais podem resultar em paralisias temporárias (neuropraxia) ou definitivas (axoniotmese e neurotmese). O nervo radial é responsável pela inervação muscular do trí­ceps braquial e de todos os músculos extensores e supinadores do antebraço, e inervação sensitiva: Responsável pela sensibilidade posterior do braço, antebraço, dorso lateral da mão e 4 primeiros dedos.

Recomendo ler o texto do site do EMG LAB (Laboratório de Eletromiografia) de Curitiba.


Inervação sensitiva da mão: Em amarelo a área inervada pelo nervo ulnar, em roxo pelo nervo mediano e em laranja o radial.

O nervo radial pode ser lesionado em qualquer ponto de seu percurso. Naturalmente, a sintomatologia irá variar de acordo com a região onde ocorreu a lesão. Neste sentido, podemos identificar 3 locais comuns de lesão traumática do nervo radial:

LESÕES OCORRIDAS NA AXILA

A "Paralisia da muleta" é uma lesão causada pela pressão excessiva na axila devido ao uso inadequado de muletas. Esta compressão geralmente se manifesta como uma neuropraxia.
A figura ao lado ilustra bem o plexo braquial em seu trajeto descendente e sua relação com as estruturas ósseas do Membros Superior. Dá pra perceber como o plexo é vulnerável na região axilar.

PERDA MUSCULAR: São afetados o Tríceps, os extensores de punho e dedos.

PERDA DE MOVIMENTO: Lesões do Nervo radial Lesões em ou acima da axila resultam em paralisia de todos os músculos inervados. Clinicamente, isto se manifesta como:
* Fraqueza de extensão e flexão do antebraço - tríceps e braquiorradial

* Queda do pulso e incapacidade de preensão - paralisia dos extensores do punho e dedos

* Fraqueza dos músculos abdutor longo do polegar e extensor

PERDA SENSORIAL
: Perda de sensibilidade no dorso da mão e antebraço adequadas para a distribuição cutânea - ver anatomia do nervo radial


TESTE: É importante a avaliação sensorial na região mencionada além de avaliar a força do braquioradial, extensores de cotovelo e punho.



LESÕES NO SULCO DO NERVO RADIAL DO ÚMERO

ETIOLOGIA: fratura diafisária do úmero, paralisia do sábado à noite, injeções

MÚSCULOS AFETADOS: extensor de punho e dedos, mas o tríceps e ancôneo são poupados. Isto acontece pois em seu trajeto descendente pelo braço, o nervo radial emite ramos para os músculos braquiorradial (também recebe fibras do musculocutâneo) e extensor radial longo do carpo antes de passar pelo sulco do nervo radial. Quem quiser mais detalhes tem uma figura excelente do n. radial e seus ramos neste link

PERDA DE MOVIMENTO: fraqueza dos extensores de punho e da articulação metacarpofalangeana. A articulação interfalangeana não é afetada por causa dos interósseos e lumbricais intactos.

RESULTADO: queda do punho e incapacidade de preensão, extensão do cotovelo está OK

PERDA SENSORIAL: primeiro interósseo.

TESTE: força do extensor de punho.

CURIOSIDADES:
“Paralisia de sábado à noite” é o nome que se dá à lesão do nervo radial causada ao apoiar a face interna do braço na parte posterior de uma cadeira por um longo período de tempo (como na imagem abaixo). Isto geralmente acontece após o indivíduo diluir sua consciência em álcool na noitada, daí o nome.

Um outro nome criativo a lesão do nervo radial nesta região é "Paralisia dos amantes" também causada por uma compressão na face interna do braço, mas desta vez, o mecanismo de lesão é associada aos amantes, que após uma noite de volúpia adormecem, porém o paciente descuidado deixa o braço funcionar como travesseiro para a cabeça da companheira, como na imagem abaixo. (OBS: devido ao conteúdo extremamente erótico deste comentário, a ilustração precisou ser considerada moralmente aceitável pela LVDMBC - Liga das Velhinhas Defensoras da Moral e dos Bons Costumes antes de sua publicação no blog)

LESÕES OCORRIDAS NO ANTEBRAÇO

ETIOLOGIA: Trauma, acidente cirúrgico, fratura/luxação da cabeça do rádio.
MÚSCULOS AFETADOS: extensores de punho e dedos, mas nestes casos o extensor radial do carpo é poupado
PERDA DE MOVIMENTO: fraqueza dos extensores da articulação metacarpofalangeana, nestes casos a articulação interfalangeana não é afetada por causa dos interósseos e lumbricais intactos. NÃO há queda da mão por causa da preservação do extensor radial do carpo e a preensão também está preservada
IMPORTANTE: Não acontece queda de punho e dedos e nem perda de preensão. Extensão de cotovelo está OK!
PERDA SENSORIAL: Não há perda sensorial pois o ramo sensitivo radial superficial está intacto
TESTE: testar força de extensores de metacarpo-falangeana

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A manipulação torácica para o tratamento da cervicalgia

Hoje vou falar um pouco sobre manipulação da coluna dorsal, mas antes devo avisar aos navegantes que eu não tenho absolutamente nada contra a Osteopatia. Faço questão de deixar isso bem claro pois não quero que minha opinião sobre o assunto seja mal interpretada. Neste post vou defender a manipulação torácica ao invés da manipulação cervical como forma de tratamento da cervicalgia pelos fisioterapeutas. Eu não sou osteopata e justamente por isso não realizo o thrust em região cervical. Sei que muitos não-osteopatas (e mesmo leigos) costumam manipular a cervical de pacientes. Muita gente acha legal ficar "estalando" o pescoço dos outros e acha que está fazendo osteopatia. Não poderiam estar mais enganados!. O Thrust é apenas uma das técnicas utilizadas pelos osteopatas, e segundo um colega meu, é uma técnica que nem sempre é utilizada nos atendimentos de osteopatia. Fica aqui o aviso: Manipular a cervical sem o devido domínio da técnica pode ter complicações graves ! ! !

Pois bem, agora que estamos conversados podemos ir direto ao assunto:

A cervicalgia é uma ocorrência comum na prática clínica dos fisioterapeutas e apesar da manipulação cervical ser considerada uma intervenção apropriado para o atendimento, devo reforçar a minha opinião de que os fisioterapeutas devem pesar bem se os benefícios compensam os riscos potenciais desta técnica.

Porém, para aqueles que não abrem mão do thrust, alguns estudos sugerem que a técnica de thrust aplicada na coluna torácica pode ser uma alternativa útil no manejo de pacientes com dor cervical. Biomecanicamente falando, distúrbios da mobilidade torácica podem ser um fator contribuinte para o desenvolvimento de distúrbios cervicais devido a uma associação existente entre a diminuição da mobilidade da coluna torácica e a presença de disfunção cervical. Vários estudos sugerem que técnicas de thrust direcionadas à coluna torácica podem diminuir a dor e melhorar a função destes pacientes.
É importante ressaltar que o thrust na coluna torácica tem um risco muito menor de complicações graves. Assim, a manipulação torácica pode ser uma alternativa adequada ao thrust cervical.

Em um estudo publicado em 2007 na Physical Therapy, e disponível para download, foram identificadas 6 variáveis capazes de identificar pacientes com cervicalgia que teoricamente se beneficiariam da técnica de thrust em coluna torácica. Embora não tenha sido conduzido um estudo clínico para comprovar a validade destes achados vale a pena a gente ficar sabendo quais são estas características:

[1] Sintomas presentes a menos de 30 dias
[2] Ausência de sintomas distais ao ombro
[3] Olhar para cima (extensão cervical e capital) não agrava os sintomas
[4] Pontuação na subscala de atividade física do questionário FABQ (Fear-Avoidance Beliefs Questionnaire) menor que 12.
[5] Cifose da torácica alta reduzida ( redução da convexidade da coluna torácica alta, sendo neste estudo considerada torácica alta os segmentos entre T3–T5)
[6] ADM de extensão cervical menor que 30 graus

Em outro trabalho, também publicado em 2007 na Physical Therapy, foram investigados os efeitos a curto prazo da técnica de thrust em coluna torácica Vs Mobilização tipo PA central graus III ou IV (conceito Maitland), sendo que os pacientes que receberam o Thrust obtiveram uma redução mais acentuada na dor cervical. Este trabalho tem uma série de limitações, mas gera algumas evidências interessantes, principalmente em relação aos efeitos adversos os quais foram bastante modestos.

Um último trabalho que eu quero citar foi publicado em 1999 e que também está disponível para download fala sobre os riscos e benefícios da manipulação cervical. É sem dúvida o texto mais complexo dos três, com uma bagagem teórica bastante pesada. Mas considero leitura obrigatória para aqueles que pretendem se aprofundar nas técnicas de manipulação.

Para aqueles que leram esta postagem até o final eu deixo um pequeno presente: Links para o download de três vídeos de manipulação da coluna dorsal com explicação em inglês.
Da minha parte, já tive a oportunidade de observar melhora na dor cervical de pacientes logo após manipulação torácica. No entanto, eu só opto por realizar o thrust em pacientes com rigidez importante da torácica e que relatam muita dor durante a mobilização tipo PA central.
Para finalizar quero salientar mais uma vez que este é o ponto de vista de um fisioterapeuta não osteopata que se borra de medo de manipular a cervical de alguém e que fica de cabelo em pé quando ouve alguém dizer que aprendeu a "estalar o pescoço" ou que faz "cleck-cleck" no pescoço dos pacientes.