segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ironia: Cuidar do Cuidador



Um dos maiores objetivos da profissão de fisioterapeuta é eliminar a dor. Essa incansável entrega e abnegação profissional pela nobre causa de curar pessoas muitas vezes cobra um preço muito alto. Não, não estou falando de dinheiro, ou melhor, da falta dele. Refiro-me as dores que todo fisioterapeuta tem ou vai ter (não, eu também não sou profeta, isso é pesquisa mesmo!). Os fisioterapeutas estão entre os profissionais da área da Saúde que mais apresentam distúrbios posturais e dores. Que ironia? “Faça o que eu mando, não faça o que eu faço” parece ser a filosofia do fisioterapeuta moderno.

Justificado por um dia difícil cheio de atendimentos, multitarefado e em um mobiliário e macas nada ergonômicos as sobrecargas musculoesqueléticas, os movimentos repetitivos de membros superiores, a manutenção de posturas estáticas e dinâmicas por longos períodos de tempo e essencialmente as sobrecargas para a coluna vertebral traduzem-se em três letras “DOR”.
A principal dor encontrada no fisioterapeuta é a lombalgia. Muitas vezes indiscriminada como um diagnóstico e não como um sintoma, o que verdadeiramente é. Cabe a nós determinar sua causa. Tarefa árdua e que requer muita pericia do profissional que pretende curar a causa e não tratar o sintoma. Isso serve para nós fisioterapeutas também. Prevenir a própria dor e lesão.

Um estudo que teve como objetivo avaliar a freqüência das disfunções na coluna lombar de fisioterapeutas da cidade de Recife resultou em um alto índice de distúrbios musculoesqueléticos localizados na coluna lombar dos pesquisados, de 56 colegas fisioterapeutas pesquisados com 78,58% de queixas. Esse estudo chama a atenção para a questão da própria saúde muitas vezes negligenciada pelos próprios profissionais da saúde. Que ironia? Isso é coisa só de brasileiro? Infelizmente não! Estes resultados corroboram com a pesquisa de Bork, que realizou um estudo com 128 fisiotera­peutas de 46 Estados americanos, dos quais 80% demonstra­ram a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos, sendo a coluna lombar a região mais freqüente.

Segundo Shehab et al., esta ocorrência de lombalgia está relacionada ao perfil do exercício profissional do fisiotera­peuta, principalmente na área de Traumatologia e Neurologia, que exigem grandes demandas físicas, sustentação de carga e alta repetição no atendimento dos pacientes. De acordo com o presente estudo, 61,36% dos fisiotera­peutas com dor lombar procuraram tratamento para o alívio dos sintomas e, dentre os que optaram pelo tratamento fisio­terapêutico, 100% deles obtiveram resultados satisfatórios; já daqueles que realizaram o tratamento medicamentoso, 50% obtiveram bons resultados.

Conclusão
Espero ter alcançado o objetivo e poder evidenciar o quão negligente nós somos com nós mesmos. Lembrar que essa máquina fantástica que é o corpo humano, especialmente o seu (no bom sentido claro) merece todo o cuidado que você daria aos seus pacientes e os abusos têm um preço muito alto a pagar, que vai desde dor até o afastamento do trabalho e a depressão. Cuide-se! Lembrem-se, quem gosta de você é você mesmo. O preço da busca desesperada pelo dinheiro é a saúde. Se você queria enriquecer ética e honestamente com Fisioterapia, sinto lhe informar que nós estamos no Brasil e essa será uma tarefa dura. Claro que não é impossível, mas se conseguir, por favor, me conte como! O resto é demagogia.

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, S. da S. Incidencia da lombalgia em trabalhadores de diversas áreas.
COSTA, F.L. Avaliação fisioterápica da lombalgia crônica orgânica e não orgânica. COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)191-200.
SIQUEIRA, G.R. et. al. Ocorrência de lombalgia em fisioterapeutas da cidade de Recife, Pernambuco. Rev Bras Fisioter. 2008;12(3):222-7.